Ecstasy, misunderstood... {I - Antevisão}.

I - Antevisão.

O pouco parece muito, quando não se espera nada.

Não conseguia ter a noção de há quanto tempo se encontrava em frente àquele espelho. Podiam ser segundos, minutos, horas... quem sabe, dias. Conseguia olhar-se nos olhos a si própria, mas não via nada de relevante. Via uma pupila preta no fundo de uma íris quase verde àgua e um fundo branco avermelhado. Do canto do olho via as suas lágrimas... negras como a maquilhagem que já nem se parecia com nada. Lembrava-se da sua professora de Sociologia ter falado à turma de algo como esteriótipo, preconceito e julgamentos apressados. Sabia que muitas vezes era julgada de forma apressada... quem sabe até pela própria professora de Sociologia... quem sabe até por si própria. Acabou por fechar os olhos quando os sentiu a arder. Não sabia há quanto tempo os mantinha abertos, há quanto tempo chorava... nem sequer sabia porque razão chorava.
As suas mãos caíram sobre a borda do lavatório, e inesperadamente, Lafitah soltou um grito agudo que ecoou por toda a casa de banho, ao mesmo tempo que caía sentada no chão. Conforme caiu, foi bater com a cabeça na porta que Janis, a sua colega de quarto, tinha acabado de abrir – e que mal ouviu aquele grito, correu em seu auxílio.
Sentiu uma dor aguda que parecia percorrer a sua cabeça em todos os sentidos, ao mesmo tempo que ouvia vozes chamarem o seu nome em tom de aflição. Toda aquela aflição que sentia à sua volta só a deixava nervosa, só a deixava com vontade de gritar, fechar os olhos com força e aterrar no chão! Mas não gritou... não tinha forças para isso, não tinha forças para reagir de que forma fosse.
Os seus olhos verde àgua, raiados de sangue e mortiços, acabaram por se fechar... quem sabe para sempre: era o seu maior desejo.