começo de uma nova vida.

Fiquei parada a admirar a casa. A sala era enorme em tons de rosa, vermelho e preto com móveis e adereços a combinar. Mais ou menos a meio da sala estava um sofá também ele preto com almofadas vermelhas e logo a seguir uma carpete rosa em cima uma pequena mesa de madeira preta que continha umas velas vermelhas e rosa que deduzi que serviam apenas como objectos de decoração.
Yu pegou nas minhas malas.
- Deixe estar. Eu levo-as.
- Primeiro, não me trates por você porque eu além de não gostar não sou assim tão velho. Segundo eu ajudo. Eu gosto de ajudar.
- Não ligues. Ele é assim. – Disse Patty logo de seguida. – já agora trata-me por tu também.
- Está bem. Vou tentar.
- Vou fazer um lanchinho para nós, está bem? O que é que gostas mais de comer?
- Qualquer coisa serve. Não sou esquisita.
- Perfeito. Antes de mais. Que cores gostas mais?
- Preto e vermelho.
- Então acho que vais gostar de um dos quartos.
Subimos as escadas que dava para o piso de cima e deparei me com um enorme corredor com tons mais leves e claros.
Fomos andando e passando por várias portas. Até que chegamos a uma delas e paramos. Yu pousou as malas e abriu a porta. Entramos e eu deparei me com um quarto enorme em tons de preto e vermelho com uma enorme cama redonda no centro do quarto e numa das paredes vermelhas uma portas preta que dava para uma casa de banho em tons azuis-claros. E na parede em frente a esta uma outra porta preta que dava para um enorme armário em tons castanhos e rosas.
- Queres que ponha já as malas aqui dentro? Pergunta Yu entrando para dentro do armário.
- Podes pôr.
- Tens ali outro armário mas esse é pequeno. – Disse apontando para outra porta, esta pintada em vermelho que ficava numa das paredes pretas ao lado de uma janela que tinha vista para o jardim da casa.
- Outro armário? – Perguntei espantada.
- Sim. - Foi em direcção ao armário e abriu a porta.
- E dizes tu que este armário é pequeno? – Perguntei ainda mais espantada se é que isso era possível.
O outro armário era em também em tons castanhos e rosas e tinha enormes gavetas. Era um pouco mais pequeno que o outro, apesar da diferença não ser muita.
- Gostas?
- Gosto. Se bem que não vou precisar nem de metade de um armário.
- Para já.
- Que queres dizer com isso?
- Eu sei como é a Patty e de certeza que no máximo amanhã te vai levar para dentro de todas as lojas do shopping que conseguir ir. Ela adora fazer compras. E vai te arrastar com ela de certeza.
- E tu não vens?
- Não posso. Posso ser reconhecido.
- Reconhecido? Como assim? – Perguntei um pouco assustada.
- Não precisas de teres medo. Eu sou inofensivo. Apenas tenho uma banda e não posso sair tantas vezes quantas quero.
- Isso deve ser chato.
- Às vezes é um pouco mas eu aqui em casa tenho tudo. – Foi até à janela do meu quarto. – Estás a ver este jardim?
Parei de arrumar as coisas e fui para o lado dele espreitando pela janela.
- Sim.
- É para lá que eu costumo ir quando quero passear com a Patty ou apanhar ar puro. Este jardim é magnífico.
- E enorme.
- Pois é. Mas compensa as vezes que eu quero sair, pensar e às vezes até para conseguir escrever musicas ou arranjar as melodias para elas.
- E então como é que se chama a tua banda?
- Cinema Bizarre. Já ouviste falar?
- Não. Que estilo de musica?
- Glam rock, pop.
- É natural eu nunca ter ouvido. No orfanato não podíamos ouvir tudo o que derivasse do rock.
- Porquê?
- Se queres que te diga não faço ideia. Apenas era uma das regras de lá. Acabei de arrumar tudo.
- Já?
- Sim. Eu disse-te que não tinha muita roupa. Eu usava sempre os vestidos, as camisas e as saias obrigatórias. Não podia andar com mais nada, só quando era para ir para a escola é que usava outras coisas.
- Bem, sendo assim, amanhã vais mesmo às compras.
- Não é necessário. As roupas que eu tenho são mais que suficientes.
- É sim. Nem que seja para tentar controlar a Patty.
Rimo-nos os dois.
- Anda, vamos lanchar e depois mostro-te o resto da casa.

- Tens planos para amanhã? – Pergunta-me Patty.
- Não.
- Que tal vires comigo as compras?
Yu que estava sentado ao meu lado disse baixinho:
- Eu não te disse?
- Por mim pode ser.
Acabamos de lanchar.
- E que tal me mostrares os teus desenhos?
- Desenhas? – Perguntou Patty.
- Sim. Não é nada de especial. É só para passar o tempo.
Fui buscar os meus desenhos. Estavam dentro de um caderno que tinha uma das histórias que escrevi. Mostrei-os.
- Agora quem diz wow sou eu. E dizes tu que não são nada de especial.
- Estão lindos. Desenhas muito bem.
- Obrigado.
- Fizeste o 12º em artes?
- Não. Por acaso fiz em línguas e humanidades.
- Que gostavas de seguir?
- Educação infantil.
- Tens que te ir inscrever na universidade, ou já estás inscrita?
- Ainda não. No orfanato só podia ir até o 12º ano.
- Então amanhã vamos tratar disso e depois vamos às compras, está bem?
- Sim.
- Bem, queres conhecer o resto da casa? – Perguntou Yu.
- Claro.
Mostrou-me o resto da casa e depois o jardim. Cada vez ficava mais admirada. Até piscina tinha no jardim. Naquele jardim tinha tudo desde todas as espécies de flores, de árvores e até arbustos de todas as formas e feitios imagináveis.
Fiquei durante algum tempo sentada na relva do jardim a desenhar. Até que fui para dentro.
Yu estava sentado no sofá abraçado a Patty e estavam a ver tv. Não os quis incomodar e fui em direcção das escadas tentando fazer o mínimo de barulho.
- Então já desenhaste o que querias? – Perguntou Patty com um sorriso na cara.
- Sim.
- Podemos ver?
- Podem. – Fui até eles e mostrei-lhes o desenho.
Patty ao ver o desenho deixou cair uma lágrima.
- Fiz alguma coisa de errado? – Perguntei atrapalhada.
- Não. – Disse Patty a sorrir. – Apenas esta parte do jardim traz-me óptimas recordações.
Suspirei de alívio.
Yu sorriu e levantou-se do sofá.
- Vou buscar alguma coisa para beber. Querem alguma coisa?
- Não. Obrigado. – Disse eu. Patty apenas acenou negativamente com a cabeça.
- Senta-te. – Disse para mim. - Foi aqui que o Yu me pediu em casamento.
Sorrimos uma para a outra e Yu chegou.
- De é que estavam a falar?
- Mal de ti. – Disse Patty, piscando-me o olho.
- Só podia. - Sentou-se ao lado de Patty. – Esse sorriso não engana ninguém.
- Bem, eu vou para o meu quarto.
- Se quiseres tocar um pouco podes ir buscar uma guitarra e levar para o teu quarto.
- Também tocas guitarra?
- Sim. Eu adoro guitarras. Posso mesmo?
- Claro. Queres ajudar para escolher uma?
- Não é preciso. Eu acho que consigo escolher uma.
- Achas?
- Sim. Posso demorar um pouco mas acho que sim. Só tenho um pequeno problema.
- Qual?
- Não sei afinar guitarras.
- Então vai ao meu quarto e pega na guitarra que está lá. É uma azul. Está afinada.
- Está bem então.
- Olha que dizes daqui a pouco vires assistir a um dos meus ensaios.
- Posso?
- Claro. Não deve haver problema. O Andy também deve estar lá.
- Andy? Sim. O irmão mais novo do meu melhor amigo e teclista da banda mais famosa de todo o mundo e arredores.
- E essa banda é? – Perguntou Patty em tom de gozo, rindo-se logo de seguida.
- Eu depois digo-te que banda é essa. – Disse em tom sedutor olhando fixamente nos olhos de Patty, recebendo como resposta, uma chapada no braço.
- Eu acho que vou indo. E sim, posso ir assistir.
Fui para o meu quarto já com a guitarra na mão. Abri a janela e sentei-me no parapeito a tocar e a pensar na reviravolta que a minha vida deu de um dia para o outro.
Passado um pouco bateram à porta do meu quarto. Fui abrir e dei de caras com um rapaz que não conhecia.
- Olá. – Disse o rapaz. – Eu sou o Andy.
- Olá. Eu sou a Susan.
- Eu sei. O Yu fez questão de me dizer isso e mais algumas coisas. E pediu-me para te vir chamar.
- Que coisas?
- Que tocas guitarra tão bem como ele, que desenhas bastante bem e que adoras escrever e essas coisas.
- Como é que ele sabe que eu toco bem se nunca me viu a tocar?
- Não viu mas ouviu. Aliás, ouvimos todos e tocas muito bem mesmo. E também cantas muito bem.
- Também me ouviram a cantar? – Perguntei atrapalhada.
- Não. Fui só eu.
Tapei a cara com as mãos. – Que vergonha.
- Vergonha porquê?
- Porque eu canto mal.
- Não cantas nada. Antes pelo contrário.
Chegamos à sala e fui apresentada às restantes pessoas que estavam presentes e que correspondiam ao resto da banda, Strify, que é o vocalista e primo de Patty, Romeo, o melhor amigo de Yu e teclista e Kiro e Shin que são irmãos e são o baixista e baterista respectivamente.
Fui assistir ao ensaio e eles eram realmente bons. Fiquei a conhecer um pouco melhor o Andy e pareceu-me ser uma pessoa incrível.
Despedi-me deles e entrei no carro com Yu.

- Então gostaste?
- Sim. Gostei muito.
Olhou-me desconfiado.
- Não estás a dizer isso só para me agradar pois não?
- É claro que não. Vocês são realmente bons.
- Obrigado. E que achaste do Andy? Eu vi os vossos sorrisinhos. Anda aí coisa, ai anda, anda, que eu sei.
- Não anda nada. Somos apenas amigos.
- Só amigos? Hmm.
- Sim só amigos, até porque eu tenho namorado.
- Ai tens?
- Tenho.
- Como é que se chama? Onde é que o conheceste? Porque é que ainda não me tinhas dito nada? Eu gosto de saber dessas coisas. – Disse fazendo beicinho.
- Chama-se Peter. Foi da minha turma desde o 10º até ao 12º. Eu não vos disse nada porque nós estamos chateados e não sei se vou ou não dar-lhe uma segunda hipótese.
- O que é que ele fez? Estás-me a deixar preocupado. Conta-me tudo.
- Não te preocupes. Primeiro fez um escândalo por eu ser órfã e atirou-me à cara eu não ter pais e que não era nada nem ninguém. Agora anda atrás de mim a dizer que está arrependido e que foi um choque saber que eu não tinha família e essas coisas.
- Ele disse-te isso?
- Disse. E é por isso que eu não quero contar a ninguém. Eu passei por muito quando percebi que não tinha pais apesar de tudo o que faziam para me ajudar foi sempre muito difícil e quando finalmente me apaixonei ele teve que me dizer essas coisas. E eu agora não me apetece vê-lo à minha frente.
- Ele não te merece. Disso tu podes ter certeza mas também podes ter certeza que nem todos são assim, por exemplo, o Andy. Ele sabe e não te julgou por isso e é teu amigo e olha que parece que ele gosta de ti.
- É de mim ou estás a tentar juntar-me com ele?
- Não custa tentar.
- Pois não. Mas isso vai ser impossível.
- Porquê? Se eu sei alguma coisa é que nada é impossível.
- Por mais que o Peter me tenha magoado eu amo-o e não o consigo esquecer.
- Já tentaste sequer?
- Já… acho eu…
- Achas?
- Ele não me sai da cabeça e por mais que tente não o consigo esquecer.
Chegamos a casa.
- Será mesmo que não o consegues esquecer ou não o queres esquecer?
- Não sei. No fundo tenho esperança que ele tenha dito aquilo tudo da boca para fora, no calor do momento.
- Eu não te quero influenciar mas eu continuo a achar que uma pessoa que te diga isso não te merece e tenho quase certeza que o Andy é a pessoa indicada para ti. – Riu-se.
- Tu nunca vais parar de dizer isso pois não?
- O quê?
- Do Andy ser a pessoa certa para mim.
- Só até tu abrires os olhos e veres o que estás a desperdiçar.
- Eu não estou a desperdiçar nada.
- Estás sim. Olha que eu sei.
- Até parece que já o andaste a apreciar.
- Podia tê-lo feito. Só não o fiz por ser o irmão do meu melhor amigo. E acredita que ele vale mesmo a pena.
- Espera aí. Eu perdi-me quando disseste que só não o fizeste porque ele era irmão do teu melhor amigo.
- Que tem? Já percebi. Eu não te disse mas sou bissexual. Não tens nada contra pois não?
- Agora percebi. É claro que não tenho nada contra.